Dia 24 de dezembro, 11h.
Daqui a 5 horas as lojas vão fechar, apesar da insistência de alguns clientes que ficarão lá dentro ainda tentando escolher algum presente. Eles vão implorar por “mais um minutinho” enquanto os vendedores trocam de roupa correndo, para pegar o ônibus e chegar em casa a tempo da ceia.
Alheio ao desespero das inacreditáveis "compras de última hora", um senhor toma um café em um balcão segurando apenas uma diminuta sacola da loja de perfumes caros. Nela está o frasco de perfume francês com que presenteia sua mulher há anos. Dezenas de anos.
É o único presente que ele compra. De todos os outros, ela se ocupa. Assim como se ocupa dos presentes de aniversário, das gentilezas com os amigos, de fazer enxoval quando nasce um neto ou de mandar corbeilles aos enterros. A roupa bem passada, a calça com a bainha feita, as meias com elásticos em dia... De tudo ela cuida. Os óculos que ele usa têm lentes novas porque ela mandou trocar. De tudo mesmo... ela cuida.
Ele vai entregar o presente mais tarde e, posso apostar, vai beijá-la na testa. Talvez, depois de algumas taças de vinho, lhe dê um selinho quando os netos gritarem “beija, beija, beija”.
“É um casamento de outra época”, você vai me dizer. Será que isso explica tudo?
Para alguém esse homem guardou suas emoções; suas alegrias, medos, tristezas, sua raiva... seu amor. Dele, tudo o que a mulher ganhou foi perfume de francês no Natal, rosas vermelhas no aniversário e bombom de cereja da Kopenhagen na Páscoa. Talvez ela não precisasse de presente algum, ou que ele se preocupasse com qualquer data, se ele tivesse algo além de formalidades para lhe oferecer.
Se você perguntar à essa mulher hoje se é feliz assim, ela garantirá que sim. Vai apontar para a mesa farta, a família unida, para os netos lindos... Mas é mentira.
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