segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Letra A do caderninho



Se você, assim como eu, se chama Ana, ou Adriana, Amanda, Angélica, Alice... E é da geração pré-Facebookeana, saberá do que estou falando. Um dia, do nada, um ex-namorado ou ex-ficante te telefona, começa uma conversa sem sentindo, com um gancho mal escolhido, e, meio titubeante, te faz algumas perguntas enquanto você se espanta com o tempo que passou sem que tivesse notícias dele. 

De onde apareceu esse sujeito? Faz dois anos que terminou com você... Ele nem se importava muito... Te deu um pé na bunda sem nenhuma classe... Que coisa mais estranha ele ligar agora, dizendo que se lembrou de você no ultimo Dia de Finados por causa da morte da sua avó 3 anos antes... E que a amiga da mocinha da novela das 6 se parece com a sua prima de Piracicaba. Por que ele quer saber onde você vai passar as férias ou se você foi à praia na semana passada?

Neste ponto, Adelaide, você acessa o arquivo-morto no seu HD pessoal para tentar determinar com exatidão de que capítulo da sua história saiu aquele sujeito. E você precisa recuperar alguns detalhes cruéis porque suas pernas tremeram ao ouvir a voz dele. Você foi pega desprevenida, Abgail, calma. Apesar do susto, a situação está sob controle. 

Você dispensa ele, Ágda, desliga o telefone e leva um tempo até concluir que: é sexta-feira à noite, ele está sozinho e com preguiça de ir para a noite garimpar. Essa esparrela toda era para saber se você está disponível. Ele tem a lembrança de que você é legalzinha e levemente desencanada. Ele acha que vai poder te dar o fora de novo sem que você se jogue na frente de um caminhão ou até que conseguirá um namorico sem compromisso porque você é metida à moderna e resolve seus dramas sozinha e sem exposição.

"E por que ele se lembrou de mim"? Ele NÃO se lembrou de você, Alcione! Você estava na letra A do caderninho, Andréa! Ele poderia ter ligado para a Alicia ou para a Arlete, Alessandra ou  Anita. Simples assim. Ele abriu o caderninho e telefonou. Talvez antes tenha tentado alguém que não atendeu. 

Se você tem mais de 30 anos  e seu nome começa com A, é muito provável que tenha passado por isso. E é bem provável que depois de levar um fora, ele tenha dito: "beleza, então depois a gente se fala". Não sofreu, não se frustrou, não se abalou nem esticou a conversa. Precisava tentar outro nome antes que ficasse tarde para sair.

Depois vieram as redes sociais, o status de relacionamento e tenho a impressão de que a ordem alfabética perdeu a prioridade na procura.

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